A RSA publicou um relatório em que analisa um tipo de malware específico do Brasil: o malware de boleto (veja também reportagem sobre isto na Folha de São Paulo, no The New York Times e no blog do Brian Krebs). Este estudo foi baseado em uma família de malware analisada pelos especialistas da RSA e encontrou algumas coisas interessantes:
- Foram identificados quase 496 mil transações com boletos, com data de pagamento nos últimos dois anos, segundo os dados obtidos nos servidores da quadrilha;
- Estas transações correspondem, na verdade, a cerca de 8 mil boletos únicos, uma vez que a maioria deles foi paga diversas vezes;
- O valor potencial da fraude, baseado nos boletos identificados, corresponde a cerca de R$ 8,57 bilhões (obviamente, nem todos os boletos foram processados pelos bancos);
- Cerca de 192 mil computadores foram infectados (estimativa baseada nos endereços IPs identificados)
- O esquema de fraude envolve boletos de pelo menos 34 instituições bancárias, incluindo os maiores bancos brasileiros.
Mas a verdade é que esse tipo de malware não deveria ser novidade para ninguém. O portal Linha Defensiva e o Fabio Assolini, da Kaspersky, já abordaram esse tipo de golpe desde o ano passado (incluindo através de uma extensão maliciosa do Chrome ou sites que prometem gerar uma segunda via de boletos vencidos).
A fraude de boleto é um crime típico do cenário brasileiro, que não existe em nenhum lugar do mundo. Isso porque os boletos de pagamento são algo específicos do nosso sistema financeiro. em poucas palavras, na fraude de boleto o ciber criminoso paga boletos "seus" (em sua posse) utilizando as contas correntes de suas vítimas.
O ciber criminoso mantém uma base de boletos a serem pagos de forma fraudulenta, que podem ser boletos criados a partir de contas correntes de laranjas, ou podem ser boletos válidos (boletos enviados para consumidores finais que, na impossibilidade de pagar o total da conta, ele/ela recorre a criminosos que cobram apenas uma porcentagem do valor do boleto, e em troca o fraudador paga o valor total utilizando a conta corrente de uma vítima). A fraude com boleto válido faz com que o ciber criminoso receba o dinheiro de forma rápida e fácil, além de dificultar o rastreio da fraude: o banco consegue identificar o dono do boleto pago fraudulentamente, mas não consegue identificar o ciber criminoso.
Os ciber criminosos tem várias formas específicas para forçar o usuário final a pagar um boleto fraudulento:
- Sites falsos de reemissão de boletos: são sites criados por ciber criminosos que prometem a revalidação de um boleto vencido. Ao fornecer os dados de seu boleto, a vítima recebe um novo código de boleto, mas que na verdade direciona o pagamento utilizando o código do boleto do fraudador;
- Envio de boletos falsos por correio: Os criminosos podem interceptar a correspondência da vítima e substituir o boleto. Assim, a vítima recebe sua conta impressa em sua casa, mas na verdade esta conta já está com os dados de pagamento adulterados;
- Malware de Boleto: Ele infecta o computador da vítima pode alterar os dados do boleto de três formas:
- No pagamento de um boleto no Internet Banking: o trojan troca as informações do boleto (a linha digitável) no momento em que a vítima digita os dados no formulário de pagamento. O Browser do usuário já envia para o banco os dados do boleto fraudulento;
- Na emissão online de boletos (ao pedir uma segunda via ou escolher fazer um pagamento com boleto): o trojan identifica uma página com dados de boleto e troca as informações pelos dados do boleto fraudulento. Eles alteram o valor da linha digitável e inserem espaços no código de barras para inutilizá-lo (assim a vítima é obrigada a digitar os dados do boleto, que já estão trocados);
- Infectando as empresas que emitem boletos: ao infectar o compitador de uma empresa, o trojan pode fazer com que ela gere, erroneamente, boletos com os dados de pagamento já redirecionados para a conta do fraudador. O cliente já recebe em sua casa o boleto adulterado :(
O Malware de Boleto comunica-se com o servidor central do ciber criminoso para buscar as informações do boleto que o fraudador quer pagar. Normalmente o malware mantém o valor original da conta, para que a vítima não perceba que pagou um boleto fraudulento e troca apenas o trecho da linha digitável que identifica o cedente, isto é, o destino do pagamento (afinal das contas, quem tem paciência para ficar conferindo a linha digitável dos boletos?). Mas, mesmo que a vítima quisesse comparar a linha digitável, o Malware altera a página de resposta do Internet Banking para que o usuário não perceba a alteração dos dados de pagamento.
A fraude de boletos representa um dos métodos de roubo de fundos mais populares entre os ciber criminosos brasileiros atualmente, apesar da Febraban informar que os boletos representaram apenas 4,5% do volume de pagamentos e 3% do total de fraudes, em 2013.
Os ciber criminosos adotam mecanismos de fraude populares em um determinado país ou região em que atuam, de acordo com as características dos sistemas de meios de pagamento locais. Há vários métodos para transferir dinheiro a partir da conta corrente de uma vítima, além de uma simples transferência bancária (que pode ser facilmente rastreada). Em alguns países, é comum utilizar compra e venda de ações para transferir os fundos. Aqui no Brasil, os ciber criminosos se especializaram em explorar pagamentos de contas e de impostos, através dos boletos bancários, além de realizar compras online (em lojas de e-commerce) ou compra de créditos pré-pagos para celulares.
O que fazer para evitar a fraude de boleto? É muito difícil, mas em alguns casos não é impossível... as dicas abaixo podem ajudar um pouco:
- Antes de mais nada, evite ser infectado por malwares!
- E sempre utilize um computador confiável para acessar o Internet Banking;
- Como a fraude envolve a troca dos dados do boleto, sempre verifique se você está pagando o boleto correto. Não tenha preguiça e compare o código apresentado;
- Para saber se o seu computador está infectado pelo malware de boleto, um teste simples é digitar a linha de um boleto na tela de busca do Google; algumas versões do malware, que atuam no browser, já trocam a linha mesmo nesta tela, e aí você verá que o autocompletar vai mostrar um valor diferente do que você digitou!
- Como os criminosos alteram os dados do boleto para enganar a vítima, para conferir um boleto que você recebeu via correio ou que gerou online, a melhor forma é conferir o código inicial do boleto que está sendo pago:
- os 4 primeiros dígitos identificam o banco; fique de olho se corresponde ao banco que normalmente emite aquela conta que você está acostumado a pagar;
- a primeira metade do código do boleto identifica o banco e o cedente, ou seja, é um código que identifica a empresa que emitiu aquela conta (que é um cliente daquele banco). Normalmente essa parte do código tem que ser idêntica as contas semelhantes que você pagou no passado. Confira isso ! (ex: se você paga seu aluguel via boleto, o código inicial identifica o banco e sua imobiliária, que todo mês é o mesmo).
Fonte: Blog anchisesbr
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